Páginas da vida, quem as não tem
Qual livro que se vai desfolhando
Á medida que os anos vão passando
Escritas de alegrias e tristezas também.
Páginas da vida, algo que não desdenho
Apesar de ter vivido na infinita esperança
De ver realizados os meus sonhos de criança
De ter comigo tudo aquilo que não tenho.
Oh páginas repletas de ilusão e fantasia
Escritas na desventura desta minha poesia
Neste querer escrever levado pelo vento;
O livro da vida não tem folhas marcadas
É um conjunto de memórias bem guardadas
Resgatando toda a vivência, de outro tempo.
Soneto de António Teixeira da Mota
Recordo a infância e lembro por momentos
As folhas de eucalipto espalhadas pelo chão,
De fazer com elas ventoinhas, vira-ventos
De pensar ter a felicidade em minha mão.
Lembro de correr atrás das borboletas
No meio de campos cobertos de trigo
De fazer ramos de papoilas com violetas
De pensar ter a felicidade junto comigo.
Agora a vida é outra e tão diferente
Caminho sozinho, vagueando entre gente
Já não ouço o som do gorjear das cotovias;
Hoje resta-me a ilusão dos vira-ventos
Dos sonhos sonhados naqueles tempos
Ficou a felicidade adiada para outros dias...
Soneto de António Teixeira da Mota
VOU DIZER A TODA A GENTE
Vou dizer a toda a gente
Que este que vêem não sou eu,
Que esta cara molhada
É de água da chuva, e não de lágrimas;
Que isto que ouvem, é um grito da dor
Mas não é meu.
Vou dizer a toda a gente
Que o tempo não existe
Que o passado nunca aconteceu.
Mas como posso dizer
Que o tempo não existe
Que o passado não aconteceu,
Se todos sabem
Que o rapaz da cara molhada
Não é quem eu digo,
E o grito que ouvem
Não é de outro, mas é meu?...
Do livro "luta incessante" de António Teixeira da Mota
PELOS CAMPOS
Quando ando pelos montes
E vejo campos floridos
Penso em ti.
Apanho braçados de flores campestres
Faço um ramo misturado
De alfazema com jasmim,
A ele junto afectos e carinhos
Nele coloco toda a fantasia que existe em mim,
E aquelas flores cheirosas
Que mais parecem um ramo de rosas
São a prova que os espinhos
Nesta terra já tiveram o seu fim.
Depois,
Subo ao cume do monte
E bem perto do firmamento
Abraço o ramo que é teu
Atiro as flores todas ao vento,
E em silêncio
Peço-lhes que as leve até ti
Que as faça chegar ao céu.
Poema de António Teixeira da Mota do seu livro " LUTA INCESSANTE"
POEMA V
QUANDO ESTOU SOZINHO
Quando estou sozinho
Por vezes
Dou comigo a falar contigo.
Falo
Tu vais ouvindo e não respondes...
Continuo a falar
Tu vais ouvindo e não respondes...
Quando paro...
Quando paro sei
Que apesar de calado, estás comigo,
Que o teu rosto está sorrindo.
Quando paro sei
Que estamos os dois, lado a lado
Nos divertindo.
POEMA Vl
OS TEUS AMIGOS
Os teus amigos
Aqueles que te conheceram
Possuem de ti, algo para me dar.
Eu vou guardando dos teus amigos
As palavras, que me ajudam a ver
E a te encontrar.
Poemas de António Teixeira da Mota do seu livro "LUTA INCESSANTE".
Se pudesse
Se pudesse
Fazer a vida voltar atrás
E fazer com que tudo fosse diferente...
Se pudesse
Manter aquele barco parado no cais
Anular a tua viagem a Maquela
E não deixar tudo aquilo acontecer...
Ah, se pudesse
E se me fosse possívél alterar o teu destino;
Regressava de novo ao ventre dela
E voltava a nascer
Para ser outro menino.
O verdadeiro
Nos objectos do teu espólio
Procurava mas não te encontrava...
Sentia a tua presença
Mas não te via...
Tinha apenas a imagem
Que a minha fantasia de ti fazia
Mas não era essa que queria...
O que queria
De verdade
Era ter-te a meu lado
De corpo inteiro.
Então, para te ter
Vestia a tua farda
E pensava
Que eu
Eras tu
O verdadeiro.
Poemas de António Teixeira da Mota do seu livro " LUTA INCESSANTE"
A TUA POESIA
Eu não escrevo
És tu
Quem comanda a minha mão.
Como podia
Escrever sem parar
Ter imaginação igual a esta
Se ninguém
Da noite para o dia
Ao acordar se vê poeta?!
Aquilo que escrevo
Sai do meu peito
Mas corresponde à tua fantasia;
Eu não escrevo
Apenas transcrevo
A tua poesia.
Poema de António Teixeira da Mota do seu livro LUTA INCESSANTE.
Luta incessante
Nesta luta incessante
De te procurar
Tambem luto contra moinhos de vento,
Também com a minha espada
Desfaço castelos que existem no ar...
Nesta luta incessante
De te procurar
Vou continuar de luto
Até vencer
A minha luta de te encontrar...
Poema de António Teixeira da Mota sobre seu Pai, falecido em Angola, na Guerra Colonial.
Este é apenas um dos poemas que António Mota dedicou a seu Pai.
Na apresentação do livro, António Mota diz:
a meu pai,
pela forma como dedicou a vida à Família,
e pelo desejo de voltar para junto dela,
pela forma como preparou
e nos ajudou a realizar
a sua viagem de regresso
obrigado.
Como nota, acrescento que o António Mota perdeu o Pai quando tinha apenas 17 meses de vida...
Na altura dos acontecimentos, o Estado exigiu à família 10.000$00 para fazer regressar os restos mortais do Sargento Mota, estavamos em 1962, a familia não tinha posses para o trazer de volta.
Só em 1996 e graças a algumas boas vontades foi possivél fazer um funeral digno a um Militar que morreu em serviço e mesmo assim graças a seu filho António que travou e ganhou uma "Luta Incessante" ao fim de 34 anos.
Como Pai e ex-combatente orgulho-me de ter o António Teixeira da Mota como amigo.
Obrigado António
José Lessa